terça-feira, 3 de novembro de 2009

Psicogêneses da leitura e da escrita

Introdução


O texto tem com finalidade apresentar os princípios básicos da psicogênese da língua escrita, considerando as idéias de Emília Ferreiro. Pretende mostrar a importância do conhecimento sobre a evolução da escrita dos alunos, através das hipóteses elaboradas pela autora. O que se pretende é mostrar que os objetivos do ensino representam a capacidades que se pretende que os alunos desenvolvam em contato com a diversidade de textos e a resolução do conflito cognitivo no momento da leitura e escrita. A compreensão do aluno com o sujeito da própria aprendizagem, na construção das certezas e incertezas, a contextualização do objeto de leitura e escrita.

A intervenção do professor tem como objetivo sistematizar e socializar as respostas, dialogando com as hipóteses dos alunos. O professor também deve ajustar o nível de desafio às possibilidades dos alunos para que realmente eles tenham bons problemas a resolver. Outro aspecto relevante da tarefa do professor é organizar os agrupamentos.

Apropriação da leitura e da escrita
A alfabetização sempre foi um processo discutido e desafiador, porque a prática pedagógica, que exige uma concepção de ensino e aprendizagem tendo por base procedimentos e orientações metodológicas, desconhecendo como a criança aprende. Isto produzia fracasso escolar já nos primeiros passos da alfabetização.

Emília Ferreiro demonstra que a aprendizagem da leitura/escrita é um objeto cultural e que se inicia muito antes da criança entrar na escola. Este pensamento se desdobra na compreensão de que há um sujeito que aprende – que constrói seu conhecimento e, isto ultrapassa a questão dos métodos, cartilhas, os recursos didáticos, exercícios percepto-motores, e que deveria ser entendido como uma aquisição conceitual.

A concepção de que a criança constrói seu conhecimento na interação com o objeto é uma idéia recolhida dos estudos de Jean Piaget, foi o ponto de partida para as hipóteses formuladas por Ferreiro. Para ela o professor precisava ter mais conhecimento da psicogênese da língua escrita, e que os “erros” eram construtivos para o processo de aquisição e que levam a criança ao conflito de suas hipóteses.

A autora considera que é possível ler, quando ainda não se sabe ler convencionalmente; os alunos são considerados leitores plenos; deve- se dar oportunidade de interação com uma grande variedade de textos; apresentar texto no contexto favorece a coordenação entre a leitura escrita, ou seja, a criança de posse de seus conhecimentos é capaz antecipar o que está escrito, por exemplo, que ajudam a pensar o que diz e o que está escrito.

Assim, os princípios básicos da teoria enfatizam que: a leitura não é algo decifrado; no momento da leitura duas informações são utilizadas: a visual, que organiza as letras impressas na página e; a não-visual, que permite compreender a mensagem do texto pela exploração visual da página, mesmo que ele não faça a leitura do que está escrito. Outro princípio é que a escrita não é uma cópia de um modelo externo, mas uma construção do sujeito.

Ao valorizar o processo e considerar a criança como centro desse processo educativo, a psicogênese enfatiza a ação da criança sobre o objeto do conhecimento. À medida que a criança lê e escreve, ou seja, tem contato com o objeto cultural, ela se desenvolve e se aproxima da escrita convencional. Se a criança tiver oportunidade de vivenciar as diferentes fases da escrita e se as atividades propostas estiverem de acordo com a fase em que ela se encontra, ela construirá a sua escrita de forma significativa

Ferreiro (1995) mostrou em seus estudos que a criança passa por diversos níveis no processo de leitura e escrita:
Nível 1: Hipótese pré-silábica; Nível 2: Intermediário I.
Nestes níveis ainda não existe vínculo entre a fala e escrita, apenas intenção de escrever usando as letras do seu nome e outros caracteres, por exemplo, números e só ela sabe o que escreveu. Estes dois níveis se caracterizam como processo que evidenciam contradições na conduta da criança e nos quais se percebe a perda de estabilidade do nível anterior, bem como a não-organização do nível seguinte, ou seja, são momentos em que surge o conflito cognitivo.
Neste momento utiliza-se o recurso da sondagem para que o professor posa conhecer as hipóteses que os alunos ainda não-alfabetizados têm sobre a escrita alfabética. Não deve haver repetição de letras nas palavras nem ditado silabado. Imediatamente após a escrita o professor solicita a leitura pelo aluno e registra suas observações.

A sondagem compreende a relação de palavras e frases considerando: primeiro um uma polissílaba, uma trissílaba, uma dissílaba e uma monossílaba e uma frase, para detectar o nível de conceitualização da criança, evitando ditar primeiramente o monossílabo. Em seguida, o professor precisa pedir que a criança leia o que escreveu a fim de entender como ela lê.

Nível 3: Hipótese Silábica – este nível é uma tentativa de dar valor sonoro a cada letra que compõem a palavra, isto é, cada grafia traçada corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser usadas letras ou outro tipo de grafia. Há, neste momento, um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigida para que a escrita possa ser lida.

Nível 4: Hipótese Silábico-Alfabética ou Intermediária II - transição da hipótese silábica para a alfabética. O conflito que se estabeleceu - entre uma exigência interna da própria criança (o número mínimo de grafias ) e a realidade das formas que o meio lhe oferece, faz com que ela procure soluções.Ela, então, começa a perceber que escrever é representar progressivamente as partes sonoras das palavras, ainda que não o faça corretamente ocorre, então.

Nível 5: Hipótese Alfabética - a escrita é conquistada pela compreensão de que a cada um dos caracteres da escrita corresponde valores menores que a sílaba, e que uma palavra, se tiver duas sílabas, exigindo, portanto, dois movimentos para ser pronunciada, necessitará mais do que duas letras para ser escrita e a existência de uma regra produtiva que lhes permite, a partir desses elementos simples, formar a representação de inúmeras sílabas, mesmo aquelas sobre as quais não se tenham exercitado.

Segundo Ferreiro (1995) a escrita não pode ser objeto de contemplação. Isto implicaria subestimar a capacidade da criança ao construir a sua alfabetização, como também contribuiria para á idéia d que a escrita é objeto do outro.

Teberosky (1993, p. 31)) diz que “ Os estudos da linguagem infantil mostram que , inicialmente, a criança considera a palavra com parte do objeto e não como um signo”.

Em resumo, a escrita é um objeto simbólico que representa algo que pode ser falado e consequentemente escrito. Não constitui uma transcrição fonética da fala, mas estabelece uma relação essencialmente fonêmica, isto é, procura representar aquilo que é funcionalmente significativo, estabelecendo um sistema de regras próprias..

Para aprender a ler e escrever, a criança precisa fazer a relação entre o que fala e a escrita e conhecer o sistema de regras da escrita, ou seja, fazer a relação entre fonema e grafema.

O conhecimento é uma construção interna do sujeito em interação com o objeto resultados da própria atividade do sujeito (interacionismo de Piaget), que propõe o sujeito ativo; os erros são processos construtivos e pré-requisitos necessários para a obtenção da resposta correta.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TEBEROSKY, Ana. Psicopedagogia da linguagem escrita. Editora da Universidade Estadual de Campinas: Rio de Janeiro: Vozes,1993.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Ed. Artmed, 1995.

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