MOTRICIDADE E HUMANIZAÇÃO
Marilma Lima
Os aspectos envolvidos na humanização devem ser compreendidos como algo complexo. Alguma coisa que todo ser humano precisa aprender para se tornar humano, ou seja, ao aprender ele realiza sua transcendência. Ao aprender ele deixa de ser apenas um corpo e se tornar parte da experiência do homem no mundo.
Diante desta complexidade, os elementos envolvidos estão ligados à natureza do indivíduo, mas sempre dentro de um processo cultural, em que os aspectos inerentes à cultura, seja ele corporal, intelectual, filosófico ou psicológico, devem ser compreendidos como humanizadores.
Por exemplo, toda experiência de deslocamento no espaço e no tempo não são ações apenas físicas, instintivas realizadas apenas para sobrevivência. Há por trás disto um ato racional, portanto humano, que serve de interação com os outros seres. Neste caso, humanizar é realizar a busca pela singularização dentro do coletivo, ou seja, quando me compreendo como um ser único e singular dentro de uma pluralidade de inter-relações. Assim, quando vou ao encontro do outro utilizo a motricidade como elemento estruturante do meu processo de humanização.
É possível entender a importância da motricidade como um elemento que me permite agir afetivamente, demonstrar sentimentos e interpretar as reações do outro. Por isto a motricidade não deve ser vista de maneira superficial, pois ela dá sentido ao meu próprio movimento. Movo o corpo em função de algo do qual me agrada ou me amedronta, enriquece ou me entristece. Reteso meu corpo quando tocado ou estremeço por alguma informação agradável recebida. Busco o movimento para alcançar a superação.
O movimento é um signo aprendido pelo qual representamos nossas vontades e desejos, por isso cada movimento elaborado, parte inicialmente pelo processo de aprendizagem. Aprendo com os outros, diferentes maneiras de expressar e interagir com o mundo. O movimento é totalidade. Para compreender isto, basta observar como as pessoas, mesmo impedidas fisicamente, por qualquer motivo de se movimentar, buscam novas aprendizagens corporais para interagirem. Ou seja, o desenvolvimento do ser humano está intrinsicamente ligado à motricidade.
Neste sentido, o corpo não deve ser visto como uma máquina que repete movimentos sem sentidos, fragmentados, como se observa, por exemplo, com o culto ao corpo, ou através das aulas de Educação Física, que visam apenas à repetição de uma técnica até que ela seja incorporada. Esta concepção esquece que, na motricidade, estão embutidos valores culturais, que representa o homem e seu diálogo com o mundo. Dizer que o homem dialoga com o mundo através da motricidade é colocá-lo acima de valores estéticos. É pensá-lo como um ser que através de um movimento conta sua história.
Para encerrar esta pequena reflexão sobre motricidade e humanização transcrevo uma poesia de Fernando Pessoa
Basta Pensar em Sentir
Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar. Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.
Viver é não conseguir.
Fernando Pessoa (Poesias Inéditas)
E com a permissão do poeta continuo: viver é não seconseguir se movimentar!
Marilma Lima é professora de Educação Física
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
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